"Fora da memória tem/ Uma fantasia/ Para você recordar todo dia. De esquecer/ De esquecer/ De esquecer, iê". (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte)
Memorial lastimável
Que dizer sobre as lembranças que rememoram momentos
que outrora me fizeram sofrer?
Como posso seguir em frente se me prendo aos
infortúnios passados?
Recorro Às minhas inseguranças anteriores sempre que
me sinto inseguro.
Me arrependo a cada instante de cada escolha feita.O
problema se deve a minha covardia de mudar.
E a covardia se deve ao medo de escolher diferente.
Marcas indeléveis são minhas memórias.
Ponta de compasso alinha que produz um círculo
perfeito,
No entanto a perfeição já não mais me seduz.
Quero viver intensamente.
Ou isso, ou morte.
Sinto vontade.
E isso dói n’alma por não se efetivar.
Não é uma questão de apenas seguir em frente com
coragem,
Mas sim de pelo menos seguir.
Quero esquecer.
Apagar as memórias que me assolam.
Desprender-me dos desejos não realizados.
Das vontades que voam nas nuvens que não pude tocar.
Suma vontade.
Ó esplendorosa vontade.
Desapareça.
O dispositivo da memória tem falhado comigo
A ponto de me fazer chorar.
Memória tem sido sinônimo de calamidade.
Não quero entrar no aspecto depressivo ou
pessimista,
Apenas quero buscar por forças para não desistir
desse mundo.
Esse mundo é o único que tenho
E não quero outro.
Não enquanto puder viver intensamente
Acredito tê-la encontrado,
Mas sofro.
Porque resolvi deixa-la partir com medo de
frustrá-la.
E aqui me encontro assemelhando memória ao medo.
Lamentos às estrelas.
Lamentos à Lua e ao Sol.
Lamentos ao mar.
Lamentos à brisa e ao vento.
Lamentos aos entes queridos.
E que os amigos me perdoem e não me desamparem.
Salva-te ó pseudo-alma se puderes.
Se tiveres outro mundo busque-o viver.
E não se lembre.
As memórias podem ser derradeiras.
Jefferson Lobato de Oliveira
LOBATO, J. O. Memorial lastimável. KYRIAL, n. 10. Campinas: 2017.